terça-feira, 2 de agosto de 2011

40 ANOS DEPOIS

RECORDANDO O DISCURSO PRONUNCIADO PELO EXMº.COMANDANTE JOSÉ FRANCISCO SOARES NO DIA 4 DE AGOSTO DE 1971 EM QUE O BATALHÃO COMPLETOU O 2º.ANIVERSÁRIO DA SUA COMISSÃO DE SERVIÇO EM ANGOLA.

"Passa hoje o segundo aniversário do ínicio da Comissão do nosso Batalhão.
As minhas palavras não são dirigidas apenas a vós que me escutais, mas também, e muito especialmente, aos nossos camaradas das CART.2559, 2560 e 2561.
Lembro a vossa chegada a Torres Novas e o ar assustadiço que muitos apresentavam e que, rápidamente, desapareceu.
Lembro a dureza da instrução, e o vos pronto acatamento a essa dureza, dentro do príncipio de que quanto mais duramente instruidos melhor seria a vossa preparação e, em consequência, maiores seriam as possibilidades de terem vantagens sobre o inimigo que se vos deparasse.
Lembro a instrução de aprefeiçoamento operacional em Santa Margarida, onde todo o Batalhão se reuniu e formou um todo coeso e unido por um são e construtivo espírito de corpo.
E nesta nossa fase de vida "metropolitana" lembro, sobre tudo, o vosso esforço, a vossa dedicação e o vosso espírito de disciplina.
Lembro, depois, o embarque em Lisboa e a vossa chegada a Luanda, o desejo de nos livrarmos dos mosquitos do Grafanil e partir para a nossa zona de acção, e, ainda, o ar, verdadeiramente "maçarico", com que enfrentamos a nossa primeira viagem pela "mata" e a nossa chegada ao Subsector de BESSA MONTEIRO.
Veio depois a fase das "luzes" de que todos hoje nos rimos, mas que é uma constante de todos os novatos em zonas como a que nos foi atríbuída.
Lembro a seguir a vossa rápida metamorfose, passado a combatentes conscientes e endurecidos, e lembro mais aqueles maus dias dos ataques às Bases da Junta, que tendo temperado e caldeado as vossa qualidades de ânimo e coragem, muito fizeram sofrer aos que, não sujeitos ao perigo, inteira e intensivamente o sentiram como bons irmãos de armas que fomos.
Veio, depois toda aquela intensa actividade operacional e sentido de segurança e ainda todo aquele interesse em melhorarmos as condições de instalação e de defesa, para nós e para os nossos vindouros, que os classifica a todos como verdadeiros soldados e verdadeiros homens.
Um dia, inesperadamente, veio a notícia do desmembramento do "nosso Batalhão", o que a todos muito desgostou. E assim foi: o Comando e a CCS vieram para o Luquembo, tendo as "nossas Companias" permanecido no Subsector de BESSA. E nesta altura, e em relação à CCS, tive eu, mais uma vez, a oportunidade de apreciar o vosso poder de adaptação e são optimismo, que rápidamente, sucedeu à decepção que todos sentimos.
Vindos de onde tínhamos adquirido perfeito conhecimento do terreno e do inimigo de onde nos sentíamos bem instalados e enraízados pelo hábito, deparou-se-nos o Luquembo com todas a suas deficiências. Foi uma batalha dura que encetámos, logo que aqui chegámos. a da melhoria de instalações.
Tivemos depois o prazer de se nos vir reunir, passados quatro meses da nossa saída de BESSA, a nossa CART.2559 que ficou sediada em NOVA GAIA, dentro do nosso actual subsector.
Embora com o nosso Batalhão dividido, todos demos o melhor do nosso esforço, no sentido do cumprimento integral da missão que nos foi dada, em relação ao nosso Subsector, missão essa que cumprimos com o maior esforço e boa vontade de Companhias que não sendo origináriamente nossas, passaram a ser. Cabe pois aqui uma referência de apreço e sincera gratidão à sempre pronta ajuda e colaboração que nos foi prestada pelas CCAÇ 2459, CCAÇ 2677 e CCAÇ 202.
Estamos hoje aqui, para comemorar o segundo aniversário do "nosso Batalhão", facto que todos se esforçaram para que fosse assinalado pela inauguração do edifício de Comando do novo Aquartelamento, que completa a primeira fase de construção do mesmo.
A todos quantos contribuiram para que esta obra tivesse realização, obra que é muito mais para os que nos vierem render do que para nós, quero eu agradecer, de todo o meu coração.
A todos os Oficiais, Sargentos e Praças, quero eu manifestar o meu maior apreço e gratidão pela conduta que sempre a todos norteou e que foi sempre dirigida no sentido do bom nome e do prestígio do Batalhão.
Neste momento, também sentidamente, lembro e para eles vai a nossa eterna saudade e gratidão, aqueles, dos nossos, que deram a vida pela Pátria e por esta promissora terra de Angola.
Embora possamos dizer que já temos dois anos de comissão, ainda não podemos dizer "Missão Cumprida". Dentro de dois meses, possívelmente, tal poderemos dizer e então teremos toda a satisfação de dever cumprido e do regresso às nossas casas.
Até lá vos peço que continueis a ser os mesmos, com aquela coragem, ânimo, sobriedade, resignação, estoicismo, capacidade de adaptação e sofrimento, de que sempre desteis provas e que fazem do Soldado Português um dos melhores do Mundo.
JOSÉ FRANCISCO SOARES
Ten.Cor. de Artª.c/CGEM
Comandante do B.ARTª.2883            

Sem comentários:

Enviar um comentário